domingo, 5 de setembro de 2010

« Porque é que queres ser enfermeira? »

Desde que me lembro, e desde que aprendi a agir por mim própria, o que mais me faz feliz é ver o sorriso na cara dos outros quando lhes dou alegria. Seja de que forma for: quando ofereço um presente, quando ajudo alguém num determinado problema, quando sou ouvinte de quem precisa de falar, quando sem motivo aparente consigo ser extremamente simpática, quando dou o valor merecido às pessoas, quando digo bom dia a toda a gente que passa por mim na rua (e em muitos destes 'bom dia' deixei senhores e senhoras de mais idade com um sorriso na cara, talvez a pensarem que afinal ainda há jovens educados). Muitas vezes consegui até contagiar outras pessoas com a minha própria alegria, o que só por si é uma vitória. Sendo "fazer os outros felizes" a actividade que me trazia felicidade a mim, tentei sempre dar o meu melhor. Mas, à medida que fui crescendo e observando "com olhos de ver" o que me rodiava, criei uma teoria dentro da minha cabeça: há diferentes níveis de necessidade, por parte dos outros, da minha ajuda. Com isto quero dizer que tanto posso fazer uma pessoa feliz porque lhe ofereci um livro que ela tanto queria, como posso dar uma sandes a outra que não come há 2 dias. Situações tão obviamente diferentes, que me fizeram perceber que existem seres humanos neste planeta que precisam muito mais da minha ajuda e da minha dedicação porque lhes faltam valores aos quais nós, porque os obtemos de forma tão natural e tão fácil, não damos qualquer valor. Falo da saúde, da comida, da habitação, da família sempre presente... Cada vez mais me custa ouvir alguém queixar-se porque ainda não tem um iPhone, ou porque hoje "não sabe onde gastar o dinheiro", quando há tanta gente a sonhar profundamente com uma casa como a nossa, com a quantidade de comida que temos ao nosso dispôr e até com a escola (local onde é hoje raro encontrar alunos gratos por aprenderem tudo aquilo que os vai tornar pessoas cultas e úteis para a sociedade). Quanto à questão da comida, ou da falta desta, sei de um continente gigantesco mesmo aqui em baixo com diferenças sociais tão acentuadas que acabou por levar a maioria da população à miséria, e onde faltam (quase) todas as condições para uma vida decente. Ir para lá é algo a considerar, se um dia for capaz de o fazer. Enquanto estou aqui no meu pequeno país, onde a fome nem é assim tanta, a maneira mais bonita que encontrei de ajudar os outros foi... dar-lhes saúde. Cuidar das pessoas, dar-lhes um pequeno sorriso quando a dor física e psicológica é tantas vezes insuportável, dedicar-me a dar-lhes conforto (mesmo quando o hospital parece ser um sítio tão deprimente), carinho e amizade. Quero ser mais do que uma profissional que só faz o seu trabalho, quero oferecer toda a minha simpatia, quero ajudar o mais possível a acabar com o sofrimento de tanta gente. Tanto quanto conseguir, é essa diferença que eu quero marcar em quem está doente. Já que não posso acabar com todos os problemas do mundo, ou com todos os problemas que muitas vezes uma só pessoa acarreta, posso com certeza oferecer a base do nosso bem estar. Posso um dia ouvir "Obrigado, enfermeira Filipa!". É esta a minha motivação.



(juntando o meu fascínio desenfreado pelo corpo humano...)

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