terça-feira, 1 de junho de 2010

uma gravata às riscas e uma fita métrica

o homem até é engraçado. chego a ter pena dele. entra num qualquer local, e olha desconfiado para tudo o que é sítio. analisa as pessoas, as estruturas, o ambiente. faz-se de superior, mas... coitado, começa a suar. limpa-se com o seu lenço branco e sente-se até um pouco humilhado. não importa. continua e pára. olha para elas. são bonitas. um outro homem de aspecto estranho cumprimenta-o com um levantar de cabeça, mas ele ignora-o e finge não o conhecer.

quando vê um outro homem avançar, ele avança também. não tinha bem a certeza do que ia fazer, mas a rapariga do vestido azul parecia ser a ideal para si. pousou a sua mala de trabalho e convidou-a para dançar. ela sorriu e no momento em que lhe ia dar a mão, suou outra vez. limpou-se e a rapariga riu dele. ainda assim dançaram, dançaram ao som de uma música divinal.

a música parou. ele encostou-se num canto e observou os outros. não ficou calado, e chegado o seu tempo, manifestou-se. o desejo realmente estragara tudo na sua vida; estava desesperado. contudo, não se mostrou inferior e fez questão de falar das suas conquistas no trabalho. mas calou-se. achou melhor. os outros também tinham o direito de expressar o que lhes ia na alma. depois, mostrou-se confuso com o tempo. o tempo não era nada, pois o desejo ocupava a sua vida e o tempo inteiro concentrava-se... ali. até o esperma era um suicídio de tempo.

um dia, ele construiu uma ponte que não chegava ao outro lado. caramba, ele esforçou-se, de início as pessoas ficaram contentes! mas depois insultaram-no. disseram-lhe que não sabia fazer uma ponte. ele, um especialista! faltavam dois metros para acabar aquela ponte. será assim tanto? é razão para as pessoas o julgarem? que culpa tem ele de não ter ideias? sim, ideias! ele tinha mão-de-obra e material, só não sabia como acabar a ponte! tinha uma doença chamada falta de ideias.

ele não quer mudar o mundo. não tem tempo para isso. considera até uma perda de tempo por parte de quem o faz. porque quem o faz, arrasta um móvel de um lado para o outro, e quando finalmente o tem no lugar, abre as portas e vê que os copos estão todos partidos. ninguém se lembra da fragilidade do vidro.

mas que interessa? sai do seu canto e vai buscar alguém para dançar. no fim, é isso que o faz feliz.


/ a quem foi ver ♥

2 comentários:

  1. Obrigada :')
    Eu não fui ver, mas senti-o, pertenceu-me e por isso obrigada, por fazeres parte do que foi um projecto de sonho.

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